quinta-feira, dezembro 29, 2005

a cinza das horas

era uma vontade dela dizer pra ele entrar por aquela porta. mas ele só tinha meia hora pra mudar a vida dela. e as lembranças tomaram conta dos livros, das músicas, das horas. como aquele retrato em branco e preto. como aquele jardim onde não se chove mais. como as formas na areia que sumiram com o vento. tudo agora era cinza. inclusive as horas. sim, aquelas que eram lembranças. porque se estas tivessem cor, elas teriam nome, sim. e seriam branco e preto. como aquele retrato. que agora já era cinza. diferente do sonho dela. que era sair pra dar uma volta, sem volta. e, se assim fosse, tudo seria colorido. com as familiares cores sem-nome.

[orkut]

segunda-feira, dezembro 19, 2005

um coração lançado a quilômetros por hora

o dia amanheceu comum. como se nenhuma pétala fosse cair em um lugar diferente. ninguém poderia imaginar que alguma coisa iria acontecer. até porque em dias chuvosos de verão tudo parece ser normal, como é. ela se sentia feliz porque agora sabia tocar uma música no violão que dizia que todos eram iguais, de braços dados ou não. mas alguma coisa dizia o que já não era possível lembrar. que dentro dela já não cabiam mais emoções. que a noite, daquele dia que amanheceu comum, foi tumultuada. ela bateu na esquerda, voou pra direita. ela perdeu litros de sangue. e percebeu que tudo era sonho. mas lembrou-se daquela velha frase que um dia senhor Raul disse: sonho que se sonha junto, é realidade. e percebeu que muitos sentimentos ao mesmo tempo tornam tudo mais cinza do que já é. muitas vozes, palavras vãs. ela não queria escutar. não queria! ela já não cabia dentro de si. se fosse medo, ou o que fosse. ela só descobriu o que já sabia: as palavras fogem, ficam só as sensações.

[de café]

sexta-feira, dezembro 09, 2005

pra não dizer que não falei das flores

ele era aquela música que não parava de tocar dentro de mim. aquele som inaudível, mas que eu sei que estava lá. ele, ao mesmo tempo que podia ser o céu e me oferecer o mundo, podia ser o chão e me oferecer um curativo no joelho. ele, que dizia tudo e às vezes nada dizia (e isso era o que mais me fortalecia), me fez acreditar que o caminho é um só. e eu, que me refiz e me refaço, estou em milhares de cacos. me perguntando de onde vêm os anjos. lembrando que se existe um abismo, quem fez a escavação não fui eu (eu acho). e tentando realmente acreditar que o oceano é finito. filosofando sobre as coisas serem tão fúteis quando não se enxerga um horizonte além. mas a estrada vai além do que se vê. e tudo que eu vejo agora é que nada faz sentido. mas hoje (08/12) foi aniversário da minha mãe. e eu dei orquídeas brancas à ela.

[de café]